Palavra Profética

A chegada de Jacó e sua família ao Egito - Pr. Carlos Sant'Anna

A chegada de Jacó e sua família ao Egito - Pr. Carlos Sant'Anna
Com base Bíblica e arqueológica podemos sim declarar de maneira científica que Jacó e sua família emigraram para o Egito. Nenhum estudioso por mais cético que seja pode negar o alto grau de probabilidade científica...

O relato Bíblico da chegada de Jacó e sua família no Egito 1878aC (2.238 a.M)

“Estes, pois, são os nomes dos filhos de Israel, que entraram no Egito com Jacó; cada um entrou com sua casa: Rúben, Simeão, Levi e Judá; Issacar, Zebulom e Benjamim; Dã, Naftali, Gade e Aser. Todas as almas, pois, que descenderam de Jacó foram setenta almas; José, porém, estava no Egito.” (Êxodo 1.1-5)

 

Esta é a saga da família de Jacó em sua jornada da terra de Canaã para o Egito narrada na Bíblia Sagrada. A terra de Canaã estava sendo assolada por terrível seca que poria em risco a sobrevivência da família de Jacó, havia ainda o fato de Canaã ser uma terra habitada por povos altamente pagãos e envolvidos em conflitos e guerras intermináveis. Toda esta problemática poderia ser nefasta para o futuro da nova nação. José estava no Egito e por mão de Deus, após anos de sofrimento e prova, havia se tornado o primeiro ministro de Faraó. José pede para seu pai vir para o Egito com toda a família e assim Jacó sob a direção de Deus, parte de Canaã para o Egito. Todo este fato ocorreu em 1.878 a.C. ou 2.238 AM.  

 “E tomaram o seu gado e a sua fazenda que tinham adquirido na terra de Canaã e vieram ao Egito, Jacó e toda a sua semente com ele. Os seus filhos, e os filhos de seus filhos com ele, as suas filhas, e as filhas de seus filhos, e toda a sua semente levou consigo ao Egito.” (Gên. 46.6,7)

E estes são os nomes dos filhos de Israel, que vieram ao Egito, Jacó e seus filhos: Rúben, o primogênito de Jacó...” (Gên. 46.8)

“Disseram mais a Faraó: Viemos para peregrinar nesta terra; porque não há pasto para as ovelhas de teus servos, porquanto a fome é grave na terra de Canaã; agora, pois, rogamos-te que teus servos habitem na terra de Gósen.” (Gên. 47.4)

“E partiu Israel com tudo quanto tinha, e veio a Berseba, e ofereceu sacrifícios ao Deus de Isaque, seu pai. E falou Deus a Israel em visões, de noite, e disse: Jacó! Jacó! E ele disse: Eis-me aqui. E disse: Eu sou Deus, o Deus de teu pai; não temas descer ao Egito, porque eu te farei ali uma grande nação. E descerei contigo ao Egito e certamente te farei tornar a subir; e José porá a sua mão sobre os teus olhos.” (Gên. 46.1-4) 6 E tomaram o seu gado e a sua fazenda que tinham adquirido na terra de Canaã e vieram ao Egito, Jacó e toda a sua semente com ele.

Gênesis 47.7 aponta que Jacó levou consigo para o Egito seus filhos, seus netos, suas filhas e suas netas, isto é, todos os seus descenden­tes, ao todo setenta almas, compreendendo 12 filhos, 1 filha, 53 netos, 4 bisnetos, bem como de suas 10 noras (Apesar de pertencer ao clã, não foram contadas em virtude do costume antigo de se contar os descendentes diretos). A família de Jacó foi morar no melhor da terra do Egito, em uma região chamada de Gosén.

“E tomaram o seu gado e a sua fazenda que tinham adquirido na terra de Canaã e vieram ao Egito, Jacó e toda a sua semente com ele. Os seus filhos, e os filhos de seus filhos com ele, as suas filhas, e as filhas de seus filhos, e toda a sua semente levou consigo ao Egito.” (Gên. 46.6,7)

“E José fez habitar a seu pai e seus irmãos e deu-lhes possessão na terra do Egito, no melhor da terra, na terra de Ramessés, como Faraó ordenara.” (Gên. 47.11)

“Assim, habitou Israel na terra do Egito, na terra de Gósen, e nela tomaram possessão, e frutificaram, e multiplicaram-se muito.” (Gên. 47.27)

Após tratarmos sobre a narrativa Bíblica da chegada da família de Jacó no Egito, seria possível levantar evidências arqueológicas que possam corroborar a narrativa Bíblica da chegada da família de Jacó no Egito sua permanência como povo escravizado e o próprio Êxodo? A resposta é sim, é possível, e é a tarefa a qual vamos trabalhar.

Classificando as evidências arqueológicas

Antes de tratarmos sobre as evidências arqueológicas, devemos ter em vista uma metodologia para separarmos achados concretos de especulações, e interpretações arqueológicas certas das incertas ou especulativas.

Por achados concretos devemos entender todas as descobertas arqueológicas validadas cientificamente por estudiosos reconhecidos (arqueólogos ou historiadores)  ou entidades reconhecidas, sejam elas museus, universidades ou fundações. Um achado arqueológico somente poderá ser cientificamente concretizado após muitos estudos que comprovem: a relação do achado com o sítio arqueológico, a datação do achado em relação ao sítio arqueológico por meio das camadas de cerâmica ou por carbono 14 e outros métodos investigatórios que visam corroborar e atestar a descoberta.

Vejamos por exemplo a descoberta dos “Manuscritos do Mar Morto”, ocorrida na região de Qumram em 1947, contendo o livro inteiro de Isaias e outras importantes partes do Antigo Testamento. As pesquisas foram inúmeras e por inúmeras instituições (Governo Israelense, Biblioteca Hutington, Universidade da Califórnia, Instituto de Antiguidades de Israel do Museu Rockefeller, etc). Hoje por unanimidade sabe-se que os achados são cientificamente concretos e valiosos para o entendimento do processo de escrituração e validação do texto do Antigo Testamento.

Todo achado arqueológico concreto deve ser interpretado à luz de seu tempo e do local ou sítio arqueológico onde foi achado ou mesmo reporta-lo ao seu local de origem e entender o motivo do mesmo encontrar-se neste ou naquele sítio arqueológico. Esta é uma tarefa de decifração histórica com base nos fatos diversos. Podemos assim ter um achado arqueológico concreto com uma interpretação histórica certa ou incerta e especulativa. A interpretação histórica especulativa não deve ser entendida como mentirosa ou falaciosa, mas como especulações histórico cientificas em cima do fato descoberto e que certamente levarão em algum momento a uma interpretação certa da história referente ao achado. Podemos visualizar então esta metodologia pelo fluxo de processo a seguir.

Com base na metodologia apresentada, iremos expurgar os achados sem validação cientifica e nos deter com achados arqueológicos cientificamente concretos, apenas definindo de maneira clara se quanto à interpretação histórica o fato é certo ou incerto, carecendo de estudos e pesquisas.

Evidências arqueológicas da chegada de Jacó e sua família no Egito

Ian Shaw é egiptólogo britânico e catedrático de arqueologia egípcia. Seus trabalhos como arqueólogo se centraram principalmente em Amarna (antiga Avaris). É escritor de vários livros, dentre eles “The Oxford History of Ancient Egypt” ou História do Egito Antigo editado pela Universidade de Oxford. Shaw faz importantes declarações sobre a chegada de povos asiáticos no Egito durante o Segundo período intermediário, (1650-1550 a.C.) citando notáveis pesquisadores. Shaw confirma que o segundo período intermediário é definido pela divisão do Egito e sua fragmentação em duas terras indicando claramente o reino de Avaris como capital dos Hicsos. A invasão e tomada do Egito pelos Hicsos e seu reinado a partir da 15ª dinastia é fato histórico e arqueológico bem conhecido. Shaw apresenta ainda importantes relatos da chegada destes povos asiáticos em período anterior ao segundo período intermediário, já na 12ª dinastia, e ao citar a grande atividade de Amenemhat III (1870 – 1831 a.C.), no âmbito da mineração, arquitetura, declara que ao final de seu reino houve uma grande entrada de povos asiáticos o que certamente encorajou a chegada dos Hicsos. Shaw revela que os Egipcios chamaram estes povos asiáticos de Aamu, para denotar em um senso geral os habitantes da Síria e da palestina e que os atuais egiptólogos os denominam de “povos asiáticos”. O termo Hicsos, ou “povos de outras terras”, muito utilizado e que também “generalizou” estes povos, é um termo grego do termo egípcio “hekau khasut”. Shaw afirma que Amenenhat II (1911 – 1877 a.C.) empreendeu pelo menos uma campanha na palestina contra os “Aamu’s ou Povos Asiáticos” e que há evidências de grande número de asiáticos no Egito até este período, muitos prisioneiros de guerra e outros imigrantes, não necessariamente os Hicsos. Ele cita a história Bíblica dos irmãos de José vendendo-o como escravo (Gen. 37. 28-36) como uma fonte que sugere outra maneira pelo qual alguns destes imigrantes chegaram. Nícolas Grimal, egiptólogo francês, também confirma que antes mesmo da ascensão plena dos Hicsos ao poder, houve uma infiltração gradual de povos como os: Aamu, Setjetiu e Mentijiu ou Tetjenu. É importante observar que Nícolas Grimal, assim como Ian Shaw demonstram haver uma clara distinção entre vários povos asiáticos que estão chegando no Egito já na 12ª dinastia como os Aamu, Stjetiu e Mentijiu ou Tetjenu dos Hicsos, o que os atuais egiptólogos chamam a todos de “povos asiáticos”, além disto estes fatos colocam a história Bíblica de José e Jacó dentro do mesmo período histórico em que estes povos asiáticos estão imigrando para o Egito.

A tabela abaixo é baseada na cronologia de Ian Shaw, onde eu acrescento a linha representando a chegada de Jacó e sua família ao Egito. A inserção da chegada de Jacó e sua família ao Egito na 12ª dinastia egípcia é cronologicamente, arqueologicamente e historicamente perfeita. O próprio Shaw faz citação deste fato em seus estudos.  

Em Beni Hasan, um sítio arqueológico egípcio do Império Médio, encontrado na margem oriental do Nilo, cerca de 160 km do Cairo existem 39 tumbas. São túmulos monumentais, os quais foram utilizados por altos funcionários do Egito Antigo.

De particular interesse para a arqueologia mundial foi a descoberta da tumba 3, de Khnum-hotep II onde existem pinturas representando “pessoas asiáticas” (homens, mulheres e crianças) apresentando homenagem a ele como um grande governante. As pinturas foram publicadas pela primeira vez em 1845 pelo cientista Frances François Champollion. Um exame das figuras dos “asiáticos” mostra claramente pessoas com pele e olhos mais claros, penteado diferente, vestes muito coloridas o que é contrário a vestimenta que os egípcios usavam (predominantemente o branco). As figuras e textos estabelecem uma ligação de Khnum-hotep com o reinado de Senusret II (1877-1870 a.C.). O que mais tem intrigado os pesquisadores é o fato que as inscrições hieroglíficas na parede identificam este povo como Aamu.

Quando olhamos este achado arqueológico, devemos perguntar o porque ele tem levantado tanto questionamento e  tantos céticos para desmistificar a descoberta? A resposta é que esta descoberta traz mais problemas para os que não creem na Bíblia do que para os que creem que suas histórias são fatos, pois certamente confirma a chegada de um grupo semítico ou asiático, denominado nos hieroglíficos de Aamu em data ligada ao reinado de Senusret II (1877-1870 a.C.). Visto os “Aamu” não serem especificamente os Hicsos como já determinado, as figuras, inscrições e datação colocam também Jacó e sua família no palco historiográfico e arqueológico como sendo os possíveis “Aamu” chegando ao Egito. Devemos lembrar que as figuras representadas possuíam vestimenta característica de Jacó e seu grupo familiar.

“Israel (Jacó) amava mais a José do que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores.” (Gen 37.3)

Os verdadeiros estudiosos do assunto, mesmo céticos, não podem negar a possibilidade de que as figuras na tumba 3 de Beni Hasan possam representar sim a chegada de Jacó e seu grupo familiar no Egito, seria loucura fazer tal afirmação e é por este motivo que esta descoberta trouxe um “entusiasmado frenesi” para os estudantes da Bíblia.

A questão se aprofunda mais ainda quando nos reportamos ao historiador judeu Flavio Josefo, que no capítulo 5 de seu livro “Antiguidades” referindo-se ao testemunho dos historiadores egípcios e fenícios acerca da nação dos judeus declara:

“O mesmo Manetom, em outro livro, onde trata do que se refere ao Egito, disse que encontrou nos livros que são tidos por sagrados, entre os de sua nação, que chamavam a esse povo de pastores cativos e nisso ele diz a verdade, porque nossos antepassados ocupavam-se da criação de gado e eram chamados de pastores; não há, pois, motivo de admiração de que os egípcios tenham acrescentado a palavra "cativos", pois que José disse ao rei do Egito que ele era escravo e obteve desse soberano a permissão de mandar buscar seus irmãos.”

Flavio Josefo esclarece que Jacó e seu grupo familiar quando imigraram para o Egito foram chamados de “pastores cativos”(o que não era pejorativo conforme informado). A etimologia da palavra hicsos no egipício significa “soberanos estrangeiros”, em árabe “reis pastores” ou “reis cativos”, desta maneira etimológicamente o termo “Aamu” ou genericamente Hicsos “hekau khasut”, sim pode ser aplicado aos Israelitas. Este esclarecimento dado pelo historiador Flávio Josefo gera enorme probabilidade científica de Jacó e seu grupo familiar terem estado no Egito, não somente isto, mas impede a qualquer cético refutar este fato.